Falar de sustentabilidade é obrigatório nas organizações que pretendem ter um papel relevante no mercado. Já é comum ter ESG no plano estratégico, optar por uma ação social ou ambiental no team building anual e monitorizar quais os ODS para os quais contribuímos (ou não nos perdêssemos a discutir o impacto das regras sobre reporting que em breve nos assolarão!).
A sustentabilidade está já no léxico organizacional ainda que, na maioria dos casos, fiquemos pela superficialidade das best practices, enredados no que precisamos de fazer, mas sem nos comprometermos com a real integração dos princípios de desenvolvimento sustentável no negócio.
O que pode mudar isto? A regulamentação tende a ser um motivador extrínseco poderoso, mas fica aquém quando se trata de real transformação. O foco no desenvolvimento sustentável de um negócio – isto é, o pensar o negócio de modo a que responda às necessidades atuais sem pôr em causa as necessidades de futuras gerações – é difícil, pouco óbvio nalguns setores e até assustador quando se pensa apenas no investimento a curto prazo. Como levar esta abordagem do papel para os corredores das organizações? Começando pela intenção da liderança de topo.
Sejamos francos: sem lucro não há sustentabilidade. O exercício muda quando conseguimos continuar a frase… sem lucro não há sustentabilidade e sem pessoas e Planeta não há lucro.
Experimentemos outro ângulo: Sinek trouxe-nos uma reflexão sobre dois tipos de jogos – os finitos (com regras fixas, jogadores conhecidos e um objetivo que os termina quando atingido) e os infinitos (em que as regras e jogadores estão sempre a mudar e em que a partida nunca acaba).
Muitos gestores lideram organizações como quem está a disputar um jogo finito, pensando a curto prazo, focando-se apenas nos resultados imediatos. Do lado oposto, quem assume o jogo infinito sabe que o jogo virtualmente nunca acaba e por isso guia-se por um quadro de valores e uma causa maior, que serve de inspiração e bússola no superar de desafios.
Assim fica claro que a intenção com que se entra em jogo é rainha! Cabe à liderança definir referenciais conscientes e integrados que norteiem a tomada de decisão. Integrar o reporting não como uma obrigatoriedade, mas como uma forma realista de avaliar o negócio e os projetos. Privilegiar as decisões tomadas em coerência com o quadro de valores defendido, principalmente quando seria mais fácil, menos oneroso ou mais imediato fazer da outra forma. Formar líderes e equipas a partir deste quadro de referência e construir políticas de gestão que o reforcem é liderar pelo exemplo e a partir de princípios fortes e conscientes. Afinal, o jogo não chega ao fim a não ser que o joguemos com esse intuito.
Artigo da autoria de Rita Duarte, CEO da Header, integrado na edição de outono da revista Líder, com o tema Humanity is Calling – Be Silent, Decide with Truth.