Falar de Globalização pode ser considerado “old news”, pois é um termo cunhado nos anos 80 e que tem sido marcadamente utilizado para categorizar um dos processos de aprofundamento internacional da integração económica, social, cultural e política que ocorre quando pensamos todo o planeta como a nossa arena de atuação.
Por este motivo, falar de globalização de talento é, inerentemente, old news as well. Com o boom de migração orientada pelo sonho de uma vida melhor alicerçada em opções de trabalho melhor remunerado que caracteriza o mercado europeu desde os anos 60 e que se foi alargando influenciada pelos acontecimentos sociais e políticos bem como pelos efeitos de cenários de guerras e violência das décadas seguintes, a pandemia covid19 que veio dar novo fôlego a uma tendência de impacto nesta globalização – a ideia de work anywhere, anytime.
Com a eliminação das barreiras geográficas via tecnologia, as empresas têm agora acesso a um vasto reservatório de habilidades e competências globais, o que aumenta a competitividade e a inovação e também clarifica uma necessidade de abordagem estratégica e adaptável a estas opções.
Somos todos igualmente competitivos?
Portugal perdeu competitividade a nível mundial no que diz respeito aos recursos humanos. No ranking de competitividade de talento da INSEAD, que analisa 134 países, Portugal aparece na 27ª posição, uma posição abaixo do último ano, mas ainda à frente de países como Espanha e Itália. A Suíça continua a ser o país mais competitivo do mundo em termos de talento, seguida por Singapura e Estados Unidos.
Entre os 25 países mais bem classificados, 17 são europeus. Esta predominância destaca a forte posição da Europa no cenário global de talento. Portugal, apesar de estar na 27ª posição, destaca-se na atração de talento, ocupando o 16º lugar devido à sua abertura a migrantes e minorias. No entanto, as competências técnicas e vocacionais continuam a ser um desafio, com o país na 48ª posição neste critério, devido ao peso dos trabalhadores com ensino secundário.
Estes dados são preocupantes pois o talento de um país é a sua força motriz. Atrair, desenvolver e reter indivíduos qualificados não é apenas uma estratégia – é a chave para o sucesso de uma nação no cenário global. Então, como avançar?
Tecnologias e Novas formas de organização de trabalho são suficientes?
A pandemia de covid-19 e a expansão do teletrabalho abriram portas a uma verdadeira aldeia global no mercado de trabalho, permitindo que trabalhadores e empresas tenham acesso a oportunidades independentemente das suas localizações geográficas sem terem necessariamente de avançar pela jornada da internacionalização.
No entanto, esta acessibilidade não se traduz diretamente em sucesso nem na atração nem na fidelização de talento – requer pensamento estratégico sobre processos, metodologias e ferramentas de recrutamento e de gestão de pessoas, construindo um modelo integrado que acondicione diferentes culturas e quadros de referência ao longo de todo o ciclo de experiência do candidato.
Para aproveitar ao máximo a globalização do talento, as organizações precisam de adotar uma abordagem estratégica ao tema. Isso inclui o desenvolvimento de políticas de trabalho remoto flexíveis, programas de desenvolvimento de talento, iniciativas que promovam uma cultura de colaboração e inovação, programas de mobilidade de talento, entre outros.
Mas nem só de RH vive a estratégia global de talento e também devem ser acautelados aspetos logísticos e tecnológicos para serem evitadas barreiras associadas à distância, isolamento ou silos funcionais que serão ainda mais impactantes num contexto de globalização sem infraestruturas tipicamente associadas a grandes empresas multinacionais.
Qual o papel das competências na globalização de talento?
Pensar talento globalmente requer a capacidade de lidar com a multiculturalidade e integrá-la a cada etapa de atração, fidelização e motivação de talento. No entanto, pode também ser um elemento de distração e trazer mais enviesamentos do que diversidade à tomada de decisão. Um caminho para tomar consciência deste risco e mitigá-lo passa por uma abordagem de gestão de competências como espinha dorsal à estratégia de globalização.
Isto significa que é crítico desafiar pressupostos de gestão de pessoas assentes em experiências anteriores (difíceis de avaliar de forma idónea quando acrescentamos diferentes backgrounds culturais) e apostar em modelos orientados para as competências de cada individuo que mais impacto têm para a função a desempenhar.
Assim, alicerçar o processo de atração de talento em competências chave permite ver para lá dos requisitos habitualmente considerados e construir experiências verdadeiramente inclusivas neste mercado de trabalho interconectado em que vivemos.
Voltamos ao início. A globalização do talento é uma realidade duradoura que continuará a moldar o futuro do trabalho e que permite a qualquer organização viver globalmente sem os riscos inerentes à internacionalização do negócio. Mas para ter sucesso neste empreendimento, as organizações precisam de uma estratégia clara para atrair, reter e motivar os melhores talentos do mundo. As políticas globais centradas em competências e a antecipação de barreiras culturais serão cruciais para aproveitar o potencial humano e tecnológico para um mundo melhor, mais sustentável e igualitário.