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Quando falamos de tecnologia no contexto atual é fácil ficarmos numa posição quase hipnótica face ao que se consegue realizar via tecnologia. É ainda mais fácil acreditarmos que o seu impacto é disruptivo e intenso, perante os constantes lançamentos de novas abordagens, novas tecnologias, novas funcionalidades a que somos expostos quotidianamente. Será mesmo assim? Quando falamos de tecnologia, esta assume-se como uma revolução à forma como trabalhamos e interagimos ou um fenómeno mais evolutivo, em que as mudanças são continuadas ao longo do tempo? 

A experiência humana como alavanca de sucesso da transformação digital 

O foco humano na transformação passa por se focar na experiência do utilizador, garantido que são as necessidades das pessoas – clientes, utilizadores, colaboradores – que norteiam o desenho da solução que se torna assim mais humanizada e adequada ao seu público-alvo. 

Identificar e recolher dados – qualitativos e quantitativos – que suportem a tomada de decisão em prol da implementação é critico pois apenas com factos inerentes ao dia-a-dia das equipas internas e/ou dos nossos clientes conseguiremos antecipar atritos e obstáculos bem como responder assertivamente à realidade de quem procuramos apoiar com a solução tecnológica identificada. 

Factor Crítico de Sucesso: Qualquer implementação de tecnologia deve antecipar o comportamento humano de quem a vai utilizar  

O conhecimento e a autonomia na utilização de soluções digitais 

A necessidade aguça o engenho e no caso da adoção tecnológica, esta acaba por acontecer na medida da necessidade. No entanto, esta visão mais transacional acarreta danos potenciais se não for antecipada e acompanhada por um investimento consciente na capacitação das pessoas que irão utilizar a tecnologia.  

O principal obstáculo à adoção tecnológica é o pouco conhecimento sobre as ferramentas e, por isso mesmo, deve ser considerado em qualquer plano de implementação. Idealmente, devemos ir além da formação sobre a ferramenta, procurando acrescentar uma dimensão de autonomia à capacitação – não basta conhecer e saber usar, mas ter um papel ativo na construção de ferramentas que sejam facilitadoras da performance. Esta capacidade de influenciar as soluções tecnológicas e de as adaptar à realidade individual de cada colaborador é mobilizadora para a sua utilização.  

Factor Crítico de Sucesso: implementar três níveis de capacitação: formação (o que é a ferramenta, como se usa), autonomia (como posso adaptar a utilização ao que eu preciso) e a iteração evolutiva (como posso intervir na construção da ferramenta para agir sobre a sua estrutura e criar funcionalidades de que preciso).  

Democratização da tecnologia será a chave? 

A acessibilidade da tecnologia é muito mais frequente hoje em dia, fomentando uma utilização muito mais facilitada de diferentes soluções tecnológicas que nem sempre acompanham as políticas organizacionais de utilização e aplicação destas ferramentas. Este ritmo desfasado entre a acessibilidade da tecnologia e a sua integração estruturada nas organizações é uma barreira ao espírito de empreendedorismo que muitas empresas até defendem. 

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A Inteligência Emocional é exemplo desta realidade, com a sua aplicação a tornar-se muito mais visível com o aparecimento do ChatGPT no final de 2022 a demorar apenas 5 dias a atingir 1 milhão de utilizadores, confirmando o enorme potencial de utilização desta solução e o apelo da mesma junto da comunidade em comparação com apenas 17% das organizações em Portugal a reportarem a utilização de práticas de IA nas suas operações1 

Factor Crítico de Sucesso: Agilidade na compreensão e integração de tecnologia nas organizações, com balizas claras sobre a sua utilização e garantindo espaço de exploração (segura) pelas pessoas da tecnologia dentro dos processos internos  

Liderança como desbloqueador da transformação digital 

É fundamental mostrar que a tecnologia existe para potenciar o trabalho humano, valorizá-lo, ajudando os colaboradores a evoluir e para isso, é essencial ter líderes que fomentem esta cultura e estejam disponíveis para a criação de um espaço seguro para a experimentação e para uma falha construtiva que seja mobilizadora de avanços e inovação.  

Factor Crítico de Sucesso: enquanto lideres, o objetivo é gerar confiança nas equipas para a utilização da tecnologia. Gera-se confiança através da partilha de informação, do apoio na transferência das competências adquiridas para o dia-a-dia de trabalho, na retirada de obstáculos organizacionais e processuais na implementação e na transparência ao longo de todo o processo junto das equipas. 

Voltamos ao início: quando falamos de tecnologia, esta assume-se como uma revolução à forma como trabalhamos e interagimos ou um fenómeno mais evolutivo, em que as mudanças são continuadas ao longo do tempo? 

A única resposta possível é “Depende!”.  Para alguns será uma evolução pois mantiveram-se atentos e foram incorporando diferentes tecnologias e soluções digitais consoante o seu aparecimento e aplicabilidade, num contexto seguro e em que a sua experiência fortaleceu a sua confiança em continuar a experimentar. Para outros, por contexto ou falta de interesse, será uma revolução pela intensidade e âmbito com que os gap de competências são cada vez mais difíceis de reduzir perante a urgência e velocidade de implementação que a tecnologia apresenta. 

Este artigo é resultado dos insights partilhados por Marco Almas (HR Learning & Development Senior Specialist da Auchan Retail), Mauricio Marques (Head of HR da Natixis), Sandra Lucas Ribeiro (Co-founder e Managing Partner da Instinct) e Diogo Silva (Impact Centers Officer da Porto Business School), na conferência Header: Metamorphosis – Leading the Future in Change.