trabalho remoto

A discussão sobre trabalho remoto e o regresso aos escritórios continua, com argumentos a reforçarem ambos os lados. Se o remoto assenta a sua defesa na flexibilidade e bem-estar, o presencial responde com cultura e produtividade. Mas será mesmo assim?

Passada a implementação repentina e obrigatória do teletrabalho em tempos de pandemia, a sua real adoção como modelo de organização de trabalho tem sido mote para debate. A diferença de expectativas entre empregadores e trabalhadores é tema internacional e já deu origem a greves e até a demissões em massa.

Em Portugal, 2023 mostra-nos ligeiras alterações no número de trabalhadores em teletrabalho (dados disponibilizados trimestralmente pelo INE). O ano terminou com valores ligeiramente acima face ao arranque de 2023 (886,6 mil pessoas trabalharam a partir de casa entre outubro e dezembro de 2023), o que significa que cerca de 17% da população ativa em Portugal está a trabalhar num modelo de trabalho remoto ou híbrido.

Os argumentos a favor do trabalho remoto são variados: maior flexibilidade na gestão de horários e local de trabalho permite uma melhor integração entre a vida pessoal e profissional, melhorando significativamente a perceção de bem-estar e satisfação dos trabalhadores. Ultrapassadas estão as limitações de condições de trabalho impostas pela pandemia (famílias inteiras em teletrabalho e telescola) e as consequências positivas sentidas ao nível da redução de tempo e custos com a viagem entre casa e escritório resumem os pontos favoritos de quem defende o remoto como uma opção mais saudável para encarar o mercado de trabalho.

Do lado oposto, os argumentos são igualmente convincentes. A perda de conexão entre colegas e com a organização com consequências nefastas na cultura das empresas, a maior dificuldade em manter networking e a perda da informalidade que “cola” as equipas e permite uma abordagem matricial a projetos são alguns dos mais comuns.

O regresso ao escritório (total ou parcial) surge como resposta a um sentimento sempre presente para os gestores de rh e líderes nas organizações: sentimos que algo está em falta.

A palavra mais frequentemente ouvida quando falamos desta “ausência” é proximidade. Precisamos de voltar a estar próximos, conectados. Sentimos falta da relação com outros, das partilhas informais sobre os projetos em mão, falta-nos algo que nos confirme como equipa.

Poderemos, no entanto, estar a confundir a noção física inerente à proximidade, quando deveríamos estar a trabalhar as dimensões emocionais da proximidade?

Será que, mais do que debater os vícios e as virtudes do modelo de trabalho A, B ou C, deveríamos estar focados em temas como propósito ou segurança psicológica?

Será que nos escondemos a falar sobre produtividade ganha ou perdida, quando na verdade ainda estamos no início do caminho de uma comunicação aberta e factual sobre desempenho?

Sabemos o que medimos e como medimos antes de afirmarmos que resulta melhor ou pior trabalhar no escritório ou em casa?

Preparamos os nossos profissionais para liderarem e serem liderados neste ambiente?

Consideramos, mesmo que superficialmente, o impacto do contexto e da individualidade de cada pessoa nestas decisões?

A proficiência na execução das tarefas?

A capacidade de priorização demonstrada?

A batalha entre remoto e presencial não se ganha neste campo. Diria até que está já perdida, caso não sejam discutidos os reais temas que afetam a produtividade, a inovação e capacidade de entrega das organizações e equipas.

Adaptamos o ditado popular como metáfora para a certeza de que, enquanto nos debruçarmos apenas sobre o que querem empregadores e trabalhadores, estamos fadados a “ralhar sem razão”. Espreitemos para lá das motivações faciais do remoto ou do presencial e talvez nos encontremos todos no mesmo sítio – pessoas saudáveis, equipas produtivas e negócios a florescer.

Por Rita Duarte, CEO da Header™

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